O Uruguai perdeu nesta terça-feira (13) um de seus maiores ícones políticos: José “Pepe” Mujica faleceu aos 89 anos. A notícia foi confirmada pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, que expressou sua tristeza nas redes sociais: "Com imenso pesar, nos despedimos de Pepe Mujica. Um presidente, militante e referência incansável. Sua ausência será profundamente sentida. Obrigado por seu amor incondicional ao povo", declarou Orsi em publicação no X (antigo Twitter).

Embora a causa exata da morte ainda não tenha sido divulgada, Mujica havia revelado publicamente, em abril deste ano, que estava enfrentando um câncer no esôfago. Ele também convivia há anos com uma doença autoimune que comprometia o funcionamento de seus rins. Nascido em Montevidéu em 1935, Mujica passou a vida inteira enraizado em sua cidade natal. Sua trajetória política começou no tradicional Partido Nacional, mas ganhou notoriedade como um dos fundadores do grupo guerrilheiro Tupamaros, que combateu a ditadura militar nos anos 1960 e 1970. Por sua militância, passou cerca de 13 anos na prisão, sendo submetido a condições extremas de tortura e isolamento — incluindo o episódio chocante em que foi forçado a beber sua própria urina para sobreviver.

Apesar do passado marcado pela repressão, Mujica emergiu como uma das figuras políticas mais admiradas do século XXI. Tornou-se presidente do Uruguai entre 2010 e 2015 e conquistou respeito internacional pela simplicidade, discurso ético e forma humilde de viver — recusando regalias do cargo, doando grande parte de seu salário e residindo em sua modesta chácara.

Histórias como a recusa em vender seu famoso Fusca azul claro, mesmo diante de propostas milionárias, ajudaram a construir o mito em torno de sua figura. Mujica era visto como um político diferente, guiado por princípios antes de interesses.

O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, manifestou pesar pela morte do líder uruguaio, destacando-o como “um grande amigo do Brasil” e figura essencial para a integração sul-americana. Pepe Mujica deixa um legado de coerência política, resistência e humanidade — uma memória viva da luta pela liberdade e pela justiça social no continente.