A nova geopolítica global e o enfraquecimento da autonomia brasileira

A geopolítica internacional passa por uma transformação acelerada em direção a uma configuração bipolar. De um lado, observa-se a ascensão da China como potência global; de outro, a condução errática da política norte-americana sob a liderança de Donald Trump. Esse cenário impõe desafios adicionais a países de médio porte, como o Brasil, cuja inserção internacional depende de um equilíbrio delicado entre interesses econômicos e posicionamentos estratégicos.
No recente desfile militar em Pequim, a presença de Celso Amorim em posição de destaque ao lado de dirigentes de regimes autoritários evidenciou uma contradição: embora o discurso oficial brasileiro ressalte a defesa da democracia, a prática diplomática nem sempre reforça essa coerência. O país participa de um tabuleiro geopolítico complexo, típico de grandes potências, mas sem dispor de instrumentos robustos para sustentar um papel de protagonismo.
Do ponto de vista estratégico, o Brasil apresenta fragilidades significativas. A ausência de capacidade militar autônoma e a dependência tecnológica reduzem a margem de manobra do país na construção da nova ordem mundial. A comparação com a Índia é ilustrativa: mesmo em rivalidade histórica com a China, Nova Délhi preserva uma tradição de autonomia e pragmatismo geopolítico, algo que o Brasil não conseguiu consolidar.
Na América Latina, os EUA têm buscado reforçar sua influência. Argentina, Paraguai e Bolívia já se alinham mais claramente a Washington, enquanto o Brasil, isolado, perdeu capacidade de liderança regional. Esse enfraquecimento compromete não apenas sua posição externa, mas também a estabilidade estratégica do subcontinente.
É provável que os EUA aumentem a pressão sobre o Brasil, uma vez que historicamente consideram o país parte de sua esfera de influência. A aproximação brasileira com a China é percebida em Washington como um movimento de risco, e pode gerar tensões externas com potenciais desdobramentos internos. O atual governo, assim como parte do Judiciário, tem sinalizado simpatia pelos interesses chineses, o que acentua esse desequilíbrio.
É importante destacar que a intensificação das relações comerciais com a China não resultou de uma decisão política de governos específicos, mas da demanda natural do mercado chinês por commodities brasileiras, sobretudo do agronegócio. O problema, entretanto, reside no impacto desse modelo sobre a estrutura produtiva nacional. Embora o setor agroexportador tenha se fortalecido, o país enfrenta um processo de desindustrialização acelerado, que enfraquece a engenharia nacional e compromete o desenvolvimento tecnológico de longo prazo.
Nesse contexto, o alinhamento político aos interesses da China não traz ganhos estratégicos. Uma relação estritamente comercial já seria suficiente, preservando a autonomia diplomática. A ausência desse equilíbrio revela uma fragilidade na condução da política externa brasileira, que hoje carece de direção clara diante da reconfiguração global em curso.
últimas
-
Profunda indignação
Prefeita Ceci cobra justiça no caso de estupro coletivo em Quebrangulo
-
BRK foi autuada
Operação Língua Suja identifica dois vazamentos de esgoto em Maceió
-
Confira
Três corridas de rua provocam interdições temporárias no trânsito de Maceió neste fim de semana
-
Decreto foi assinado pelo prefeito Ronaldo Lopes
Prefeitura de Penedo lança Programa IPTU Premiado com sorteio de cinco motos
-
Natural de Arapiraca
Correios efetiva primeira mulher como superintendente em Alagoas