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Capitalismo em transformação: desafios e oportunidades - economia para não economistas

19/08/2025 08h08

Nesse artigo, abordaremos elementos gerais sobre o capitalismo. Inicialmente, tratamos dos princípios de sustentação econômica do sistema, seguido de uma breve análise sobre a evolução do capitalismo ao longo dos anos. Por fim, analisaremos as perspectivas do sistema atual.

Elementos definidores do capitalismo


Apesar da existência de diferentes escolas de pensamento sobre o modo de produção capitalista, existem três principais elementos que caracterizam esse sistema.
A primeira dimensão é a propriedade privada dos meios de produção e a existência de um mercado livre no qual os bens e serviços. O segundo elemento é o princípio da acumulação de capital sempre visando o aumento do lucro. Por fim, o terceiro axioma capitalista se alicerça no espírito empreendedor adotado pelos indivíduos. Podemos também falar do “espírito do capitalismo”.

Uma perspectiva histórica do modo de produção capitalista


Séculos XV e XVI


Acredita-se que as origens do capitalismo remontam ao início da Idade Média. Porém, foi durante o Renascimento que as primeiras formas de capitalismo se consolidaram. Nesse período surgem os bancos, as cidades mercantis e, com o aparecimento dos estados nacionais e a preponderância da burguesia nasce o espírito empreendedor das pessoas.

Séculos XVII a XIX


O século XVIII e o advento da Revolução Industrial marcaram o surgimento do capitalismo moderno. As mudanças institucionais e a consolidação dos negócios da burguesia permitiram o surgimento de fato da lógica capitalista entre as nações. A produção passou a ser focada no desenvolvimento do capital, agregando valor às matérias-primas, acumulando capital e gerando lucro.

Final do século XIX - XXI


No final do século XIX, o capitalismo europeu experimentou sua primeira grande crise com a Grande Depressão de 1873-1896. Ao se superar, o capitalismo se renova, estabelecendo um equilíbrio de poder mais intenso entre a burguesia e o proletariado.

Na primavera de 1929, o capitalismo conheceu a primeira grande crise mundial, com a derrocada da produção industrial, assim como das rendas agrícolas, e a queda da renda dos trabalhadores. Iniciou nos EUA e se estendeu por todo o mundo.

Para se ter uma ideia da magnitude da crise, os Estados Unidos, que haviam se transformado na principal economia do mundo, registraram um crash das ações de todas as empresas que operavam em Wall Street. O declínio continuou por três anos: os preços das ações caíram 87% e os bancos faliram. Essa derrocada financeira rapidamente colocou a economia real de joelhos. A produção industrial americana caiu pela metade entre 1929 e 1932, e a taxa de desemprego subiu de 3,1% para 24%. As consequências dessa crise culminaram na Segunda Guerra Mundial.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, o capitalismo recuperou todo o seu vigor dentro de um sistema econômico global dominado pelos Estados Unidos. Impulsionado fortemente por políticas intervencionistas inspiradas pelo keynesianismo, viveu um período de grande prosperidade que durou até a primeira metade da década de 1970. Foi nesse período, também conhecido como os Trinta Gloriosos, que se constituiu o atual sistema financeiro internacional composto por bancos centrais, bancos comerciais, mercados de câmbio, mercados de capitais, organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, além de regulamentos e políticas que governam as transações financeiras internacionais.

A partir de 1970, o capitalismo iniciou um período de desregulamentação e de gradual desengajamento do Estado: nasceu o capitalismo atual. Os mercados e os agentes financeiros adquiriram um poder considerável, passando a ditar suas condições aos Estados e às empresas cada vez mais.

Entramos no século XXI com o setor de serviços assumindo cada vez um peso significativo nas economias ocidentais. Hoje, por exemplo, as maiores multinacionais são empresas de serviços como a GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft). A capitalização de mercado da Amazon, em 2021, foi de quase US$ 1 trilhão, quase 25% do PIB do Brasil. Elas são consideradas as principais criadoras de empregos no mundo. Até 2020, a Apple já havia criado mais de 670 mil empregos para a criação do iPhone.

Por outro lado, o capitalismo asiático – tendo a China como âncora e baseado na estreita colaboração entre grandes grupos industriais e o Estado – passou a dominar a produção industrial nesta aldeia global.

Parece que o capitalismo conseguiu se estabelecer como um sistema econômico eficaz diante do comunismo.

Reflexão
Desde 20 de janeiro de 2025, Donald Trump vem implementando aumento dos impostos de importação dos produtos nos EUA. Trata-se do primeiro sistema unilateral de comércio, desde o pós-Segunda Guerra Mundial, quando surgiu a Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Sistema Financeiro Internacional.

Na sua opinião, essa política de “tarifaço” vai reorganizar a economia internacional, trazendo um novo modo ao sistema capitalista, com novo ordenamento mundial? Estamos assistindo ao aprofundamento das desigualdades estruturais entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, através de um modelo que vai alimentar a “troca desigual” no comércio internacional? Ou será que o sistema capitalista está dando sinais de esgotamento, como dizia Marx?