DISCURSO DE POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALAGOAS

Cadeira nº 13 – João Aderbal Raposo de Moraes
Senhor Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Jayme de Altavila,
Senhoras e Senhores Sócios,
Autoridades presentes, familiares, amigos e convidados,
Chegar a esta tribuna é mais que um gesto de celebração pessoal — é, sobretudo, um ato de gratidão e compromisso.
Gratidão, a esta Casa — o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas — que me acolhe com generosidade.
Compromisso, com a responsabilidade de integrar uma linhagem intelectual que, há mais de 150 anos, sustenta a memória, a história e o pensamento crítico do nosso Estado.
Confesso: emociona-me atravessar os umbrais deste Instituto.
Aqui repousam nomes veneráveis da vida pública, científica e cultural de Alagoas.
Sinto, com reverência, o peso simbólico de uma herança que não se mede por títulos, mas por entrega.
E é com humildade que me coloco diante dessa tradição — não para me servir dela, mas para somar-me a ela.
Sou, como já disse a alguns confrades, um jovem sessentão em boa forma.
E, se algo construí até aqui, foi porque nunca desperdicei o tempo com folguedos inúteis.
Fiz do trabalho, da constância e da curiosidade os meus melhores aliados.
Foi assim que me formei médico.
Foi assim que encontrei na mastologia uma vocação feita de escuta e precisão.
E foi assim, também, que me aproximei da história e da cultura — dois territórios que, a seu modo, revelaram-se igualmente terapêuticos.
A medicina me ensinou a observar o invisível.
A história, a escutar o que já não fala.
Ambas exigem silêncio, método e respeito pelo humano.
Ao ser acolhido neste Instituto, não trago apenas uma trajetória construída.
Trago o desejo sincero de aprender com os que vieram antes e de contribuir com a energia que ainda me anima.
Quero somar forças para que esta Casa continue sendo o que sempre foi:
Guardiã da verdade, da ciência, da memória e da dignidade de Alagoas.
E, neste instante de posse e emoção, permitam-me uma saudação especial:
Obrigado, meus amigos.
Muitos médicos deixaram sua marca na história do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
A medicina e a memória caminham lado a lado nesta veneranda instituição, que resguarda, com zelo, os testemunhos de uma tradição médica comprometida com o saber, a ética e o bem comum.
A história da medicina em Alagoas está profundamente entrelaçada com a trajetória desta Casa —
onde a ciência encontra abrigo na cultura, e o ofício médico se revela também como gesto de preservação da identidade do nosso povo.
Entre tantas riquezas que aqui repousam, permitam-me destacar uma joia que me fascina: as Fallas Provinciais.
Essas mensagens dos presidentes da Província às assembleias legislativas, entre 1835 e 1930, são muito mais que relatórios administrativos:
são verdadeiras narrativas institucionais da fundação de Alagoas.
Graças ao trabalho monumental de meu confrade e antecessor, o Dr. Luiz Nogueira Barros, essas fontes foram resgatadas com rigor, sensibilidade e espírito cívico.
Ali encontramos, lado a lado, escolas e cemitérios, portos e epidemias, a Guerra do Paraguai e os conflitos com a Liga Republicana, as finanças provinciais e as primeiras experiências de iluminação urbana.
Documentos que iluminam não apenas a máquina do poder — mas a alma das conjunturas.
É com reverência que evoco agora a trajetória do Dr. Luiz Nogueira Barros, que me antecedeu nesta mesma Cadeira nº 13.
Nascido em Pão de Açúcar, em 2 de novembro de 1935, viveu parte da infância em Santana do Ipanema — cenário de muitos de seus contos e afetos literários.
Formado em Medicina pela Universidade Federal de Alagoas, em 1963, exerceu sua profissão com dedicação ao serviço público, ao SESP e ao INAMPS, sem jamais se afastar da literatura, do ensaio e da crítica histórica.
Com uma produção plural e corajosa, escreveu:
* O que se passa com o rei? — fábula sobre a guerra;
* A solidão dos espaços políticos — ensaio sobre as décadas de 30 a 50 em Alagoas;
* As bodas do Senhor Prudente — peça teatral premiada pela Academia Alagoana de Letras;
* Do sertão ao litoral — coletânea de contos, crônicas e ensaios histórico-filosóficos.
Foi secretário perpétuo deste Instituto e membro da Academia Alagoana de Letras.
Homem de formação médica e vocação literária, Luiz Nogueira Barros uniu o olhar clínico à escuta da história.
Leu o sertão e a capital com olhos atentos à política e ao humano.
Deixou-nos a lição de que escrever também é cuidar.
Antes dele, a Cadeira nº 13 foi honrada por Ivan Fernandes Lima, bacharel em Direito, geógrafo, historiador e escritor.
Foi o pioneiro, em Alagoas, na aplicação dos princípios científicos da geografia.
Seu nome é citado em estudos desenvolvidos por universidades norte-americanas e francesas sobre etimologia alagoana.
Entre suas obras fundamentais, destaco:
* Geografia de Alagoas
* Palmares: uma geografia da liberdade
* Maceió: a cidade restinga
Ivan Fernandes Lima não precisou alardear sua importância.
Construiu-a no silêncio dos arquivos, na firmeza do método e na ternura do pensamento.
E então, senhoras e senhores, voltemos ao princípio — ao patrono da Cadeira nº 13: Dr. Manoel Moreira e Silva.
Ao erguer a palavra nesta tribuna de saber, memória e consciência, peço licença para fazer brotar, das veredas do tempo, a figura de um homem cuja vida se enraizou nos solos férteis da medicina e das letras —
e cujos frutos continuam a nos alimentar, um século após sua partida.
Manoel Moreira e Silva nasceu em 24 de janeiro de 1876, na povoação litorânea de Tatuamunha, em Porto de Pedras.
Ali, sob o teto modesto de uma casa de barro e cal, começou a germinar um dos mais lúcidos espíritos da Primeira República alagoana.
Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1902, e retornou logo a Alagoas, trazendo consigo instrumentos clínicos, livros, ideias e projetos.
Foi médico de corpos e de almas.
Ficou conhecido como “o Doutor de Tatuamunha”.
Jamais renegou sua origem: levou o nome da vila de pescadores às salas do governo e às cátedras da cultura.
Foi Secretário do Interior no governo de Fernandes Lima, promovendo reformas sanitárias e estruturais.
Mas é nas letras que sua marca mais alta se inscreve: foi fundador e primeiro presidente da Academia Alagoana de Letras, ocupando a Cadeira nº 1.
Faleceu em 7 de maio de 1920, aos 44 anos — uma vida breve, mas fecunda.
Seu nome vive em logradouros: a Avenida Moreira e Silva, o Colégio Moreira e Silva.
Mas o que permanece é sua ideia de medicina como caridade científica, e de cultura como abrigo da dignidade humana.
Neste instante de memória e reverência, permitam-me destacar outras três figuras que marcaram minha formação:
Guedes de Miranda, Dr. Ib Gatto Falcão e Aurélio Buarque de Holanda.
Ib Gatto, meu mestre no Hospital do Açúcar — médico e professor que me ensinou a grandeza do gesto e da escuta.
Aurélio, mais que dicionarista, era parente — ponte entre inteligência e sensibilidade, amigo e primo de meu pai.
Esses três nomes — Guedes, Ib Gatto e Aurélio — são, para mim, faróis.
Que seus legados continuem a iluminar nossos caminhos.
Quanto a mim, chego com humildade e disposição.
Trago a experiência da medicina, o gosto pelas letras e o compromisso com a memória.
Trago, sobretudo, a convicção de que cultura não se herda — cultiva-se, conquista-se, compartilha-se.
Como ensinou Pierre Nora:
“A memória é vida, sempre em movimento, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento.”
Agradeço, enfim:
Aos que me antecederam.
Aos mestres e amigos.
À minha família.
Tudo o que trago nesta manhã é fruto de uma jornada feita a muitas mãos.
Não sei quanto ainda terei a oferecer —
Mas sei que aqui, nesta Casa, darei o meu melhor.
Porque aqui, como disse um de nossos mais lúcidos pensadores:
“Não se entra por glória — entra-se por propósito.”
Muito obrigado.
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