Meu Pequeno Cajueiro
Enquanto caminhava, vi uma criança parada, olhando fixamente para uma árvore. O vento brincava com as folhas, que dançavam como se partilhassem de um segredo antigo. O garoto parecia absorvido naquele momento, contemplando o que a natureza oferece a quem se dispõe a ver: a quietude que fala, o instante que abraça.
Aquela cena trouxe de volta uma memória da minha infância. Não recebi brinquedos ou roupas como presente; ganhei um cajueiro dos meus avós. Uma árvore para crescer comigo. E cresceu, a cada ano, do mesmo jeito que eu. Quando a fome apertava, ele me ofertava frutos. Nos dias tempestuosos, suas raízes firmes me acolhiam, e naquelas noites de coração inquieto e amores juvenis, ele ouvia, em silêncio, minhas confissões e dúvidas.
Mas o tempo, esse viajante distraído, seguiu seu rumo, e eu segui o meu. O cajueiro permaneceu lá, firme, mas esquecido. Envelheceu sem que eu percebesse. Suas folhas rarearam, e seus galhos se curvaram ao peso dos anos. Eu sabia que ele ainda existia, mas a vida me empurrava para tantos lugares que não sobrava espaço para voltar o olhar para trás. Ele não deixou de ser importante — apenas se tornou invisível, como as coisas que julgamos sempre poder retomar amanhã.
Um dia, muitos anos depois, encontrei meu cajueiro desfolhado, cansado. Corri até ele, mas o tempo, implacável, já não era meu aliado. Eu gostaria de ter mostrado sua grandiosidade a meus filhos, de tê-lo apresentado aos netos como testemunha silenciosa da minha história. Mas não importava mais. O essencial era estar ali, ao seu lado, por quanto tempo fosse permitido — um dia, uma semana, um ano ou o quanto a vida quisesse conceder.
E então, quando o momento da despedida chegou, sentei à sua sombra pela última vez. Não era tristeza o que eu sentia, mas gratidão. O cajueiro viveria para sempre, não nas folhas que caíram, mas nas memórias que ele plantou em mim. Somos parte um do outro, inseparáveis.
Parafraseando Saint-Exupéry: “És responsável pelo cajueiro que cativas e que te cativou.”
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