Alagoas
Hortaliças ocupam lugar do fumo e mudam cenário agrícola de Alagoas
Plantio de fumo entrou em declínio em Alagoas na década de 1990, forçando Arapiraca a buscar alternativas para diversificar sua economia

Por décadas, a cidade de Arapiraca e municípios da região Agreste de Alagoas foram referência no plantio de fumo, mas, com o declínio da cadeia produtiva, as hortaliças e o cultivo de mandioca se tornaram as principais alternativas para as quais diversos agricultores familiares migraram. Hoje, somente a olericultura chega a movimentar cerca de R$ 50 milhões por ano e vem transformando o cenário produtivo no estado.
O plantio de fumo entrou em declínio em Alagoas na década de 1990, forçando Arapiraca a buscar alternativas para diversificar sua economia, como analisa o economista Fábio Leão: “A mandiocultura e a produção de hortaliças ganharam força, tornando-se pilares da economia rural da região. A estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades facilitou essa transição, permitindo que agricultores se adaptassem a novas culturas”.
A cadeia produtiva do fumo passou por uma grande transformação em diversos estados nordestinos e, em Alagoas, não foi diferente. Os altos custos com defensivos agrícolas, carência de mão de obra e baixa oferta do produto, que enfrentava oscilações no mercado, foram determinantes para a diminuição da produção no estado. A redução dos incentivos governamentais e o aumento das restrições ao consumo de tabaco, por conta dos riscos à saúde, também impactaram negativamente o setor.
Agricultores antes dedicados ao fumo e com pequenas parcelas de terra, não chegando a um hectare, precisaram buscar alternativas para sobreviver. O que se vê hoje pelos municípios do Agreste alagoano são poucas propriedades produtoras de fumo, que resistem frente aos desafios econômicos. A solução encontrada por muitos homens e mulheres do campo foi migrar para cultivares com mais agilidade no processo produtivo e mais lucrativos.
Segundo a superintendente adjunta do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Alagoas (Senar), Luana Torres, o fumo possui um ciclo de vida que vai de 90 a 130 dias para iniciar a colheita, dependendo da variedade. As hortaliças, que ganharam espaço nesta nova configuração agrícola na região, precisam de uma média de 30 dias, entre o plantio e a colheita, para estarem aptas à venda.
“O tempo antes gasto com apenas um ciclo do fumo permite a esses agricultores três ciclos de hortaliças atualmente”, diz Luana Torres. Havia ainda outro agravante, segundo ela: a exposição a altos níveis de nitrosamina, uma substância altamente cancerígena encontrada no fumo cultivado em Alagoas, o que causava adoecimento dos produtores e era um impeditivo para sua comercialização, já que em altos níveis é uma substância perigosa à saúde humana.
Quarto maior produtor
No auge da produção fumageira, em 1980, Alagoas chegou a ser o quarto maior produtor de fumo do país e produziu, naquele ano, 30.976 toneladas em uma área de cerca de 34.233 hectares, segundo dados do IBGE.

Produção de fumo no Agreste alagoano caiu pela metade ao longo das últimas décadas. Foto: Prefeitura de Arapiraca
Hoje, a produção de 2023 foi de 15.286 toneladas em uma área de 9.632 hectares e é feita por produtores familiares com área média plantada que não chega a um hectare. Os produtores alcançam um faturamento bruto de R$ 37 milhões anualmente.
Existem, segundo o Senar, 7,4 mil propriedades cultivando fumo no estado, todas em municípios vizinhos à Arapiraca. Estima-se que 20% dos agricultores plantam em propriedades de terceiros, seja arrendando, pagando ao dono da terra com metade da produção ou em regime de comodato.
De acordo com dados da Secretaria de Agricultura de Arapiraca, só 60% de todos os produtores de fumo do município plantam em terras próprias. Quem arrenda terra na região normalmente paga por esse uso no fim da safra, em fumo: cada 0,3 hectare custa em média 50 quilos de fumo de corda. O preço varia ano a ano, mas corresponde a algo entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil.
Cinturão Verde, caminho para as hortaliças
Sem um dos principais produtos agrícolas produzidos por Arapiraca, que já se posicionava nos anos 1990 como a segunda maior cidade do estado, era necessário buscar soluções mais rentáveis e sustentáveis.

Cinturão Verde impulsionou cultivo de hortaliças na principal cidade do interior de AL. Foto: Prefeitura de Arapiraca
Foi então que surgiu, em 2003, o Cinturão Verde, fruto de uma parceria da Prefeitura de Arapiraca com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), para fomentar o cultivo de hortaliças e outros vegetais na região norte da cidade. Estimativas do setor apontam que, atualmente, a produção de hortaliças movimenta R$ 50 milhões por ano na região.
Segundo Anderson Soares, assessor técnico da Secretaria de Agricultura de Arapiraca, a região escolhida para abrigar o Cinturão Verde abrange 13 comunidades no município e possui um clima que favorece práticas de irrigação e cultivo de hortaliças.
“A cidade de Arapiraca está situada em uma área de transição entre o Agreste e o Semiárido do estado, então a escolha da região foi decisiva para que o Cinturão Verde conseguisse dar certo. O solo é mais plano, possui oferta de água, o que favorece a irrigação, além de ter uma precipitação pluviométrica na quadra chuvosa que oferece condições de desenvolver este tipo de cultivo”, explicou.
De início, o projeto queria atender 150 agricultores, mas, ao longo dos anos, as iniciativas foram sendo ampliadas e atualmente são mais de 400 produtores que cultivam hortaliças somente em Arapiraca.
“Nosso trabalho tem sido voltado a prestar assessoria técnica, auxiliar produtores na elaboração de propostas de crédito rural junto a bancos, oferecer carro-pipa, entre outros serviços. Com isso, já conseguimos diversificar as hortaliças cultivadas e introduzir outros legumes, como é o caso do tomate e da mandioca”, disse.
A produção de alface e coentro do Agreste, por exemplo, supre a demanda interna do estado. Há ainda o incremento com couve, cebolinha, pimentão, tomate e mandioca, que também chegam a abastecer feiras e supermercados em diversas cidades alagoanas.
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