Alagoas
Lagoa Mundaú é “barril de pólvora”, alerta pesquisador
A situação da Lagoa Mundaú é considerada um “barril de pólvora”. Esta é a avaliação do pesquisador e doutor em Ciências Aquáticas, Emerson Soares. Com 25 anos de experiência em estudos sobre águas no país e internacionalmente, ele afirma que os impactos ambientais severos que já existiam no complexo agora somam-se aos efeitos da subsidência causada pela mineração.
Há alguns anos, o pesquisador vem alertando sobre os problemas existentes não apenas na Lagoa Mundaú, como na Lagoa Manguaba, que formam o Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM), que vão desde a presença de contaminantes, como agrotóxicos, metais pesados e esgotos, ao assoreamento. Os riscos vão desde o aumento da salinidade até a possibilidade de reações químicas entre os componentes dissolvidos na água.
“É um barril de pólvora, esse problema do solo sendo depositado ali na lagoa, com essa mudança de ambiente através da exploração da Braskem vai propiciar alteração da salinidade na lagoa, o que vai trazer problemas para o sururu, muito explorado lá”, detalha.
De acordo com o pesquisador, a destruição de mata ciliar, despejo de esgotos resultante da falta de saneamento, carreamento de agrotóxicos e outros produtos químicos utilizados nas usinas, o acúmulo de metais pesados e assoreamento formam um ambiente extremamente prejudicial e que trará impactos de longo prazo com potencial risco à saúde da população.
“Vejo cada vez mais as coisas piorando. Mas não só isso, são seis situações hoje cooperando para um cenário caótico da Lagoa Mundaú e uma hora o meio ambiente vai cobrar. Os problemas que se enfrenta hoje, de seca e de crise energética em todo o país, são consequência de situações que já duram anos. A mesma coisa vai acontecer aqui e o poder público local só vai tomar providências quando algo grave acontecer. Quanto maior o impacto mais vamos ver mortandade de peixes e futuramente podemos ter contaminações graves de pessoas devido ao acúmulo desses componentes que não deveriam estar presentes no complexo”, defende.
Em nota a Braskem minimizou o problema afirmando que “apenas 2% da área sofreu impactos”
“Após coletar amostras de água e identificar os animais e a vegetação existentes nesses locais, a empresa Tetra Tech realizou uma Escuta Formal Pública, no último dia 29 de setembro, quando apresentou resultados dos estudos, além de propostas de medidas de mitigação e compensação dos impactos identificados que têm relação com o fenômeno de subsidência e com as operações de extração de sal-gema. Conforme previsto no acordo socioambiental firmado com os MPs, o plano definido após o diagnóstico e a escuta pública é que indicará as ações futuras. A área de mangue que foi alagada está localizada especificamente no trecho das margens da Área de Resguardo e representa menos de 2% da área de mangue total avaliada no estudo. No plano ambiental proposto, está indicada uma medida de recomposição de área igual de mangue que será oportunamente definida em conjunto com as autoridades”, diz a empresa.
Além disso, informou que vem realizando avaliações da área e que pretende em conjunto com as autoridades estabelecer “medidas mitigadoras”.
“Em dezembro de 2020, a Braskem assinou um acordo com os Ministérios Públicos Federal e do Estado de Alagoas, que prevê recursos e tratativas nos aspectos sociais, ambientais e de mobilidade. Foi nomeada uma empresa no acordo para realizar os estudos independentes para avaliar possíveis impactos ambientais na região, inclusive na lagoa Mundaú e seu entorno. Estes estudos incluem atividades técnicas de campo, análise de dados históricos e também escutas da população e das agências e secretarias ambientais do município e estado. A Braskem reitera o seu compromisso com a segurança dos moradores dos bairros afetados pelo fenômeno geológico, propondo e executando as ações necessárias para isso”, afirma.
IMA diz que afundamento afeta 14 hectares de manguezal
O coordenador de Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Ricardo César, afirma que o órgão identificou um comprometimento de 14 hectares (ha) de manguezal ocasionado pela subsidência. Vale destacar que as principais minas de sal-gema com risco de colapso se encontram no subsolo da lagoa e nas margens. Além disso, o ponto que mais representa risco atualmente fica no Mutange.
“O IMA identificou que há uma área isolada na Laguna de Mundaú de 2 quilômetros paralelo à margem, isso foi determinado pelo Instituto de Geomecânica da Alemanha que identificou como uma área possível de colapso. Essa área é que está sendo inundada, está havendo o afundamento do solo e a água tem invadido. Isso afetou em termos de percentual de mangue, de 1,73% o que corresponde a 13 ou 14 hectares de área de mangue que afundou. O nível da lagoa subiu e essa vegetação está 100% inundada e não deve sobreviver”, informa.
Questionado sobre quais providências tomará sobre o caso ou se deve elaborar uma avaliação aprofundada da região, o IMA afirmou que estudos na área são de responsabilidade da Braskem.
“Os estudos são de competência da Braskem que tem equipes multidisciplinares, eles apresentaram estudo prévio, encaminharam ao MPF e vão propor agora, a partir dessa identificação de impacto, medidas mitigadoras e de compensação e recuperação ambiental. Deverão apresentar ao IMA, que vai analisar ou propor outras medidas que venham beneficiar ou recuperar o que foi impactado”, salienta.
De acordo com Ricardo César, os impactos não foram mensurados. “Como sabemos que os manguezais têm importância muito grande, fauna associada, os mangues são fornecedores de nutrientes, isso ainda não foi quantificado, sabemos que afeta uma cadeia estuarina bastante extensa, mas com essa importância, o impacto é muito grande porque a fauna não encontra mais o espaço necessário para a reprodução. Os órgãos foram informados, vai haver uma audiência pública e todos os estudos serão apresentados. Existe ainda um processo administrativo com multas contra a empresa e a exigência de compensação e reparação”, afirma.
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